Esta postagem é uma amostra das atividades do módulo Projeto de Vida, da turma-2025, da Faculdade 50+, do SESC/SENAC Pelotas-RS. A temática desta turma é sobre a história da nossa cidade, portanto encaminhamos as reflexões para os pequenos propósitos que cada um pode realizar nos espaços públicos.
Nossas aulas foram realizadas com inspiração poética e com roda de conversas buscando compreender o ser, o ter, o compartilhar e o cuidar dos espaços públicos na perspectiva de que, também, podemos ter propósitos voltados para o lugar onde moramos.
A cada manifestação, trocas em grupo ou leitura em voz alta sobre o que refletíamos em relação aos espaços públicos da nossa cidade e percebíamos o quanto isso poderia fazer parte dos nossos “pequenos-grandes propósitos” de vida, descobrimos o aluno Antônio Rocha como nosso declamador oficial. A cada encontro, trazíamos um poema ou acróstico como retorno das reflexões do encontro anterior – essa devolução para o grupo foi especialmente sensível e bem recebida por todos.
Neste aúdio, na voz de Antonio, foram reunidas várias falas do grupo sobre o que poderiam fazer como pequenos propósitos:
Tudo começa com um riso na calçada fria, capaz de aquecer até os cantos mais esquecidos da cidade. Com gestos simples, como convidar meu filho para caminhar ou chamar amigos para uma volta pelo bairro, vamos desenhando novas formas de pertencimento.
Há quem diga: “vou passar os poemas desta aula para meus filhos e neta”, porque compartilhar beleza também é um ato público. Outros seguem plantando afeto ao dizer: “vou cuidar das árvores e plantas da rua”, ou ainda, “quero cultivar a beleza dos ipês”, como quem acredita que a cidade também floresce com a nossa atenção.
Dizer “bom dia” para os vizinhos e crianças, responder ao cumprimento de um anônimo – e perceber que, nesse instante, nos tornamos mais humanos, mais irmãos. Um gesto de cuidado, um bom dia respondido: são sementes silenciosas que transformam.
“Vou partilhar com meu marido, filha e netos”, diz alguém, reforçando que o espaço público também é construído nas conversas de dentro de casa.
Há quem se comprometa em ser multiplicador da importância de bons hábitos, e quem proponha colocar placas de orientação para manter os lugares limpos – pequenos marcos para grandes mudanças.
Aqui, Antônio declama o poema Se Este Lugar Fosse Nosso, baseado no sentimento que o grupo demonstrou sobre o quanto todos estão apressados e mal percebem os lugares por onde andam, nem sequer a pessoas que cruzam pelas ruas:
Se Este Lugar Fosse Nosso…
Se este lugar fosse nosso,
teria sombra e tempo.
Teria bancos de escuta,
e chão firme pra memória.
Haveria risos que moram no vento
e passos lentos com destino certo.
Teria nome de quem veio antes
e um abraço invisível para quem chega.
Se este lugar fosse nosso,
o mundo não seria tão apressado.
Seria mais banco na praça
e menos cerca no coração.
Na sequência, foi apresentado um acróstico da frase “SE ESTE LUGAR FOSSE NOSSO” para continuar inspirando as reflexões sobre os lugares, os tempos e as pessoas que passamos e não sentimos, não vemos e não lembramos:
Se Este Lugar Fosse Nosso
Sonhamos com um lugar de encontros
Espaços onde o tempo desacelera
Em cada canto, um gesto de cuidado
Silêncios e risos em harmonia
Tem sombra, tem banco, tem conversa
E todo mundo cabe – noite e dia
Luzes suaves, árvores com história
Um chão firme pra quem quer caminhar
Gente olhando nos olhos,
Acolhendo o passar
Respirando o agora devagar
Foi assim que inventamos esse lugar
Onde o comum vira memória
Se houver carinho pra cultivar
Seremos nós, a cada passo,
Escrevendo juntos essa história
Não é preciso muito, só vontade
Olhar atento, presença e intenção
Se este lugar for mesmo nosso,
Será também extensão do coração.
Onde termina o caminho, recomeça o cuidado.
Nesta altura do módulo, já tínhamos refletido sobre as pequenas ações que poderíamos fazer como parte de nossos propósitos e o poema “Começa com um” foi inspirado nessas reflexões do grupo:
Começa com Um
Um banco pintado.
Um lixo recolhido.
Uma árvore regada.
Um “bom dia” respondido.
Uma roda de conversa.
Um olhar que não desvia.
Um silêncio bem-vindo.
Um riso na calçada fria.
Um gesto de cuidado.
Um convite para caminhar.
Um olho atento no chão,
outro no céu a sonhar.
A cidade não muda de uma vez.
Muda de alguém em alguém.
Começa com um
que planta.
Um que escuta.
Um que chama.
Um que fica.
E, de um em um,
o lugar vira abraço.
Qual é o “um” que você pode ser?
Para concluir o módulo foi proposta a metáfora da Porta e da Janela para que todos pudessem refletir sobre o seu peculiar modo de viver seus propósitos nos lugares, tempos e pessoas da nossa cidade. Foi perguntado (referindo-me a imagem abaixo): – Isto é uma porta ou uma janela? (tinham que responder baseados na primeira ideia que surgisse à mente).

Se respondeu PORTA você é do tipo “Eu abro caminho” gosta de promover ações que convidam, acolhem, conectam. Se respondeu JANELA você é do tipo “Eu dou visibilidade” é alguém que tem uma atenção que observa, registra, compartilha. A metáfora de ser “porta e ou janela” nos ajudou a fazer a reflexão final do módulo. Tivemos uma enriquecedora reflexão em grupo sobre nossas diferenças e semelhanças, nossas percepções e ações, nossas possibilidades e oportunidades.
Aqui, Antonio nos brinda com a leitura do poema “Modo do dia” que foi inspirado na reflexão final do grupo:
Modo do dia
Acordo com a cidade encostada na maçaneta. Respiro: hoje serei Porta ou Janela?
Se Porta, abro passagem no cotidiano: um sorriso que chama, um convite breve, um “bom dia” que atravessa a rua, duas pessoas apresentadas, um guarda-chuva partilhado na esquina.
Se Janela, dou luz ao que já existe: conto as cores que brilham no muro, escuto três sons e escrevo seus nomes, fotografo o cuidado anônimo de alguém, guardo num bolso o mapa de um caminho bonito.
Meu pacto é pequeno – do tamanho da palma: um micro propósito que caiba no trajeto, entre cinco e quinze minutos de atenção posta em prática. Porque o mundo muda quando eu me movo um pouco. E a cidade agradece toda vez que escolho abrir Portas ou acender Janelas.
Cada palavra é um gesto sincero de quem acredita que pequenas ações podem transformar a cidade. E assim concluímos o módulo Projeto de Vida com a sensação de que cada um dos alunos participou das reflexões com genuíno interesse e com a percepção mais ampliada sobre como podemos ser mais participativos através de pequenos gestos e que isso constitui um mosaico de possibilidades no sentido de vida de cada um, de cada pessoa 50+.
Módulo ministrado por: Lélia Caetano e Adriana Velasco (jul-ago 2025)
